Correr no Nordeste do Brasil

 Em Nômades corredores, Nômades digitais

Os aprendizados de uma expedição de três meses por Paraíba, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará

Entre novembro e início de fevereiro, nóscruzamos quatro estados do Nordeste, em uma expedição que agora faz parte do nosso estilo de vida nômade. Claro que não deixamos os treinos de lado neste período, já que os desafios de 2020 têm datas definidas: 31 de maio, em Porto Alegre, e 18 de outubro, em Amsterdam. 

Não é segredo para ninguém que o Nordeste é quase um outro país dentro do Brasil. As diferenças culturais, de linguagem, de sotaque e de gastronomia são algo que tornam essa viagem ainda mais interessante. Ao contrário da divisão que tomou conta do país nos últimos anos, eu — nascido e criado em Curitiba — sou um apaixonado pelo Nordeste, com as suas belezas e problemas.

Especificamente para quem viveu a vida toda ou está acostumado ao clima da capital paranaense, há outros dois fatores determinantes para os treinos: o clima e a geografia.

Desde o ano passado, o horário de verão foi cancelado nas regiões Sul, Sudeste e Centro-oeste, mas nunca foi implantado no Nordeste. Há um motivo óbvio (mas que, para quem é do Sul, passa despercebido): a localização geográfica. No verão, o sol dá as caras por volta das 5 horas da manhã — a partir das 4h30 já temos luz. Para quem é corredor ou gosta de atividades físicas, isso implica em madrugar ainda mais — quase um corujão da madrugada — para fazer o treino render, especialmente os longos.

De certa forma, a temperatura no Nordeste no período em que viajamos é quase constante: entre 27 e 29 graus. O que muda, de fato, é a sensação térmica: no sol, ela pode chegar a quase 40 e, à noite, com o vento, ser bem mais amigável. De qualquer maneira, ambos os cenários exigem um cuidado muito especial com a hidratação: não saia treinar sem água ou em lugares sem a possibilidade de comprá-la.

Outro ponto: o vento é quase um adversário na corrida. João Pessoa e Natal oferecem ventos dignos de cinema. Se você correu 5 kms a favor do vento em um pace 5′, não estranhe perder 20/30″ na volta contra o vento. Ao longo do período, encaramos o vento como uma espécie de subida infinita (é essa a sensação).

As diferenças entre as cidades

João Pessoa — Terra da Meia Maratona de João Pessoa, a capital da Paraíba tem o vento mais forte do Nordeste — ao menos onde passamos. Correr na orla é uma delícia, visto que pela manhã, a avenida Beira-Mar é fechada para carros. Na orla de Manaíra, Tambaú e Cabo Branco, há uma grande estrutura de comércios — faltam apenas chuveiros públicos. O calçadão, sem considerar os bairros do Bessa e Intermares, tem 8 quilômetros.

Recife —Recife é uma cidade gigante e tem os ônus e bônus disso. O trecho da praia do Pina até Piedade — passando por Boa Viagem — tem pouco menos de 10 quilômetros e toda uma estrutura de quiosques. Se a maré estiver baixa, é possível seguir boa parte do trecho pela areia. Outra dica para os corredores mais raízes é aproveitar a interdição da Via Mangue às terças, quintas e sábados para usufruir de um trecho com mais subidas e descidas (ocupado pelo pessoal que treina bike ou triathlon). Além disso, aos domingos, é aberta uma ciclofaixa que liga Boa Viagem ao Recife Antigo e é um ótimo caminho turístico para treinar.

Natal —O calçadão da Praia de Ponta Negra é o menos interessante em relação ao tamanho: são só 2 quilômetros. Porém, oferece chuveiros. Próximo de Ponta Negra, há outros dois pontos de treino: a avenida Roberto Freire tem um calçadão de aproximadamente 2 kms, seguido de uma ciclovia, e a Via Costeira. Trata-se de uma avenida entre as falésias e as dunas, onde foram construídos os hotéis de luxo de Natal. Nela, há um belíssimo percurso de mais de 10 kms, entre subidas e descidas que vale a pena conhecer.

Pipa —Uma das praias mais paradisíacas do Nordeste, correr em Pipa pela areia acaba sendo limitado pela sua característica: uma praia que praticamente desaparece na maré alta. Se você acompanhar a tábua de marés, é possível descobrir o momento de baixa e correr até Tibau do Sul (cerca de 7 kms) acompanhando as falésias. Vale a experiência! Para quem gosta de subidas e descidas, a estrada até Tibau é outra possibilidade. Apenas cuide com os veículos, pois ela é escuríssima à noite.

Jericoacoara –Jeri é para corredores mais do estilo trail. Não há trechos asfaltados por perto e é preciso escolher: areia (pela beira da praia – de preferência na maré baixa); montanha (ao seguir para a Pedra Furada, há um caminho de trilha de areias, com vistas deslumbrantes); ou dunas (sim, dá para correr pelas areias e montanhas, caso você seja muito raiz). Eu me aventurei em todos esses!

Os dois percursos prediletos para mim foram a Via Costeira, em Natal, e as trilhas de Jeri — o visual é absolutamente impressionante, e a orla de Recife, para a Fer. 

E você, para onde iria?

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